Quando pequeno dizia para meu irmão Tércio:
-"Ainda vou alcançar você na escola"
Ao que ele, irmão mais velho que eu, dois anos, respondia:
-"Bobagem, nunca! Quando você estiver no 1o. estarei no 3o., sempre estarei na sua frente."
Ele repetiu dois anos. Fizemos a 5a. série juntos, na mesma classe.
Escrevi a Peça de Teatro "João Ninguém" (sucesso de crítica e de público).
O enredo da peça:
O milionário Renato Medeiros Lacerda, tem um filho que nasce com um só braço. Com vergonha de apresentá-lo para a sociedade, paga para que o menino seja dado como morto e levado para longe. O deficiente, que nunca aparece em cena, torna-se um pintor de sucesso. O pai o perssegue a vida toda, fazendo-o perder empregos e oportunidades, temendo que ele venha a frequentar as altas rodas. Ao fim o jovem morre como mendigo nas ruas. O pai arrependido, declama a poesia João Ninguém, de autoria de Eduardo de Oliveira, que me foi ensinada por minha querida tia Maria Angélica Euphrasio Campestre, mais conhecida como "Eca".
Tudo bem até aí. No meio da apresentação,no palco do ginásio, depois de já havermos apresentado o primeiro ato. Meu irmão Tercio que fazia o papel de Dr. Marcio, Contracenando comigo que fazia o MIlionário injusto, me chamou nos bastidores e disse:
-"Tercival ! Vamos mudar o final da peça ?"
-Como assim ?
-Vamos fazer o João ninguém estar vivo ?
-Íncrível! Mas não dá tempo o elenco não vai assimilar isso em 5 minutos!
-Não precisa. No último ato estamos apenas eu você. Você declama "João Ninguém" .Eu pego um figurante sem braço, entro apresento como seu filho e você fica louco... Topa ?
-Ta feito! João Ninguém, é ninguém! Ninguém morre na peça ! É o máximo, você é um gênio, Tércio!
E assim foi, para perplexidae do elenco do contra regras, dos cenógrafos e do público. A peça termina e, o Tércio-Dr. Marcio, entra com um João ninguém, sem braço no palco e diz:
"-Renato. Na tentativa de enganar e ludibriar as pessoas, você durante todos estes anos foi o mais enganado. Todo o dinheiro que você me pagava para persseguir e destruir este jovem eu envesti na formação dele como artista na Europa."
Tercival-Renato Medeiros Lacerda fica louco e no improviso total grita para o filho sem braço:
- "Não me olhe desse Jeito, você está morto! Eu o Matei, você está morto... Ahhhh!"
Emocionado com a atuação do irmão menor, o Dr. Marcio-Tércio brada de improviso:
"Oh Deus de bondade infinita, por que é que o ser humano tem errar e blasfemar para angariar experiência... Pode-se dizer até mesmo, que sobre a terra, não há nenhum ser perfeito e sim, muitos a caminho da perfeição"
FIM
E dai? o que isso tem a ver com "NOSSO AMIGO O DOM" ???
É que...o João Ninguém, tinha que ser alguém. O figurante que colocou o braço dentro do casaco e entrou no improviso final era o querido MANOLO, cantor da banda "Os Nômades."
Foi para ele que diante do auditório lotado eu gritei:
"Você está morto! Não me olhe assim, você está morto!"
De toda nossa turma, o Manolo foi o primeiro a morrer.
Pouco tempo depois, jovem, afogado!